A maneira mais fácil e mais segura de vivermos honradamente, consiste em sermos, na realidade, o que parecemos ser. (Sócrates)
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sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Magna Terra - entre o cante e a “heresia”



Magna Terra- uma união da excelência lírica com a audácia e inconformismo da música.

Reverência aos campos e aos montes, às cidades e às gentes... um Alentejo urbano com uma herança inestimável de tempos idos.

São vivências, legados e histórias de Saberes; um trabalho que nos fala do que fomos e somos, do que somos e queremos ser.

Em Retratos, o tempo demora-se:

Toda a vida fui pastor
toda a vida guardei gado(...)

Vou deixar atrás os meus olhos
na lembrança d'outros beirais(...)

assim fala este “guardador de rebanhos”; mas entre o que fomos e o que seremos há, inevitavelmente, o agora, fruto de um tempo e de um espaço geográfica e socialmente aberto.

No Cimo De Uma Memória, de novo, os de outrora, reinventando e perpetuando de geração em geração os mesmos anseios.

Procurar Por Nós Em Cada Terra porque Algo É Nosso; é esse “algo” que perpassa em cada palavra, em cada instrumento – arquétipos de um Colectivo- E se aqui a palavra proclama a terra e a semente, a preocupação, o desalento ou a esperança, ali os sons fundem-se numa harmonia invulgar do tradicional com o urbano. Isto é Magna Terra.

Será menos Alentejo, o Alentejano na Diáspora, em busca de melhor vida?
Será menos Cante a expressão urbana desse mesmo Alentejano?

Ai sonho meu que foste ao longe
buscar a sorte perdida (...)
Sê Alentejo
Seara e Vida(...)

Magna Terra quis e quer levar ao longe este sonho, sempre intervindo pela música, pela poesia, numa palavra, por este “tudo” que é nosso.

É que

Se um dia o Alentejo morrer
de sede cantada não há-de ser...


(Teresa Cuco)





Créditos:

Fotografias de:

António Peleja
Irene Carvalho
Manuel Raphael
Paulo Tabanez


nota: este é um vídeo que visa exclusivamente divulgar o trabalho da banda "Magna Terra"; sempre que nos foi possível identificar os autores das fotos aqui divulgadas também, obtivemos o devido consentimento dos respectivos autores; caso seja o autor ou conheça a autoria de alguma foto aqui apresentada, agradecemos que nos contacte, a fim de procedermos à devida referência. Obrigado.

sábado, 17 de novembro de 2012

Nova Antologia de Poetas Alentejanos em Castro Verde


Nova Antologia de Poetas Alentejanos em Castro Verde

Há as apresentações da Nova Antologia de Poetas Alentejanos e há as histórias de cada uma dessas apresentações.
Gosto de as contar.
Porque entre um lugar e outro, há o caminho, e aqueles preparativos que se vão transformando em rituais.
Depois, há aquelas frases que nos ficam na memória das viagens: “ já viram este céu? As pessoas nas cidades não têm um céu tão grande como este...” dizia o Manuel; e é verdade; o Alentejo tem um céu grande; a gente vê terra e céu e consegue sentir-se verdadeiramente parte do Universo.
A Margarida cantava “...Óh v’zinha tem cá lume p’rá cender meu candeeiro..., sabem esta?" E lá fomos conversando e cantando, ganhando terreno à chuva e ao vento, rumo à Biblioteca Manuel da Fonseca, em Castro Verde.

Castro Verde é esta terra de vagares, de gestos puros e olhares imensos. No meio da planura alentejana, com a simplicidade de quem oferece a mesa e cultiva a amizade.
Depois de ler esta afirmação num desdobrável do posto de turismo de Castro Verde, quase não consigo dizer mais nada. É que há frases e palavras que nos assentam na pele.

Há sítios onde a gente chega e sente que está em casa. E pessoas que o nosso coração aceita de imediato.
A Biblioteca Manuel da Fonseca é bonita, tem excelentes condições de acústica e, sobretudo, é gerida e mantida por pessoas que amam o que fazem.
Não posso deixar de referir o Museu da Ruralidade em Entradas, http://aldrabaassociacao.blogspot.pt/2011/07/inauguracao-do-museu-da-ruralidade.html e a excelência daquele jantar na taberna do museu, o acompanhamento e apoio exemplares das entidades oficiais locais, afinal e sobretudo, as pessoas, sempre as pessoas... por elas e com elas seguimos armados de poemas e música, na busca incessante de um lugar, comum a todos os homens e mulheres, lugares da poesia, lugares da alma.


(Teresa Cuco)


1







Poemas lidos em Castro Verde


ESTRADAS 

Não era noite nem dia.
Eram campos, campos, campos
abertos num sonho quieto.
Eram cabeços redondos
de estevas adormecidas.
E barrancos entre encostas
cheias de azul e silêncio.
Silêncio que se derrama
pela terra escalavrada
e chega no horizonte
suando nuvens de sangue.
Era a hora do poente,
quase noite e quase dia.
E nos campos, campos, campos
abertos num sonho quieto,
sequer os passos de Nena
na branca estrada se ouviam.
Passavam árvores serenas,
nem as ramagens mexiam,
e Nena, para lá do morro,
na curva desaparecia.
Já da noite que avançava
os longes escureciam.
Já estranhos rumores de folhas
Entre as esteveiras andavam,
quando, saindo um atalho,
veio à estrada um vulto esguio.
Tremeram os seios de Nena
sob o corpete justinho.
E uma oliveira amarela
debruçou-se da encosta
com os cabelos caídos!
Não era ladrão de estradas,
nem caminheiro pedinte,
nem nenhum maltês errante.
Era António Valmorim
que estava na sua frente.
- Ó Nena de Montes Velhos,
se te quisessem matar
quem te havera de acudir?
Sob o corpete justinho
uniram-se os seios de Nena.
- Vai-te António Valmorim.
Não tenho medo da morte,
só tenho medo de ti.
Mas já a noite fechava
a saída dos caminhos.
Já do corpete bordado
os seios de Nena saíam
- como duas flores abertas
por escuras mãos amparadas!. ..
Ai que perfume se eleva
do campo de rosmaninho!
Ai como a boca de Nena
se entreabre fria, fria!
Caiu-lhe da mão o saco
junto ao atalho das silvas
e sobre a sua cabeça
o céu de estrelas se abriu ...
Ao longe subiu a lua
como um sol inda menino
passeando na charneca ...
Caminhos iluminados
eram fios correndo cerros.
Era um grito agudo e alto
que uma estrela cintilou.
Eram cabeços redondos
de estevas surpreendidas.
Eram campos, campos, campos
abertos de espanto e sonho ...

(Manuel da Fonseca)

nota: Manuel da Fonseca dispensa apresentações; poeta grande do Alentejo e suas gentes; tive a ousadia de o declamar, em jeito de homenagem aos presentes e ao espaço (Biblioteca Manuel da Fonseca) com todo o meu amor;

2

Aromas

Não adormeças: não assim e não aqui,
onde o aroma das falésias
nos escorre pelos ombros
e o vento do Verão se atrapalha
a morder o azul dos telhados.

Não adormeças, peço-te:
é tão cedo e ainda as sombras
desfilam na cal dos muros
para provar os frutos que deixámos na mesa
onde há muito se perderam os gestos.

Não vás, que os morangos ainda me sopram
frios na ponta dos dedos e ainda é tão cedo
(é sempre tão cedo) e por isso te peço:

Não vás,
que agora já o teu corpo é um barco
naufragado no meu corpo
e a tua ausência é o meu partir.

(João Paulo Coelho in Nova Antologia dos Poetas Alentejanos, pp 166)


nota: João Paulo Coelho nasceu em 1987 na cidade de Évora, onde habita.
É um dos mais jovens poetas desta Nova Antologia. Gosto de o dizer.



(autoria das fotos 1 e 2: Filipe Pratas)

outros autores lidos nesta sessão:

Arlinda Mártires
Eduardo Raposo
Jao Suão
Manuela Parreira da Silva
Margarida Morgado
Maria José Lascas Fernandes
Maria Vitória Afonso
Miguel Rego
Teresa Cuco

poemas ditos por:

Eduardo Raposo
Manuela Parreira da Silva
Margarida Morgado
Maria José Lascas Fernandes
Maria Vitória Afonso
Miguel Rego
Paulo Ribeiro

poemas cantados por:

Arlinda Mártires e Carlos Bull
João Cágado e Manuel Dias
Nuno do Ó
Paulo Ribeiro















domingo, 11 de novembro de 2012

poemas no castelo de Viana



Imaginemos:

um castelo
e uma  igreja lindíssima com pessoas lá dentro;
e o cante  dos homens.  

estes homens têm um andar arrastado
de quem traz preso aos tornozelos
todas as terras e todas as histórias deste sul.
na voz há a força das planícies
e a lonjura das searas
cantam
o Alentejo
o Amor
o Trabalho
assim como uma espécie de oração
frente ao altar


Senhora d’Anunciação
  Vai um dia visitar
  Faz uma romaria
  Visita a Senhora d’Aires (...)

Imaginemos agora os livros
com muitos poetas lá dentro
e os poemas
que se querem ditos
que se querem cantados





































e assim construímos e desconstruímos a poesia em mais uma sessão desta Nova Antologia de Poetas Alentejanos, no passado dia 27, em Viana do Alentejo.

Para além dos agradecimentos devidos à autarquia local, não podemos deixar de referir um agradecimento especial à nossa amiga Rosa Barros, pelo empenho, pela recepção, por tudo!
À Diana Regal (oficina do feltro), uma palavra especial pelo excelente acolhimento.
Por fim, direi que, "se o meu sangue não me engana", eu hei-de voltar a Viana, a  do Alentejo, para dizer poemas uma tarde inteira naquela igreja.

(Teresa Cuco)